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Pra Ina

Era uma sala bem estranha.

Quase vazia, a não ser, por um jarro de farmácia

com rosas de pano amarelas como o tempo

que eu estava sentado ali –

No mais, só o barulho do mar enchia a sala vazia . . . . . . .

de rosas de pano sem cheiro

como você quando está longe . . . . . .

Que eu me lembre o tempo passava, indiferente ao drama

comum das rosas sem côr e eu, sentado pensando em

deixar sonhar com rosas você . . . . .

Daí ao aperto de lágrimas foi um pulo . . . . . .

E o barulho do mar se confundiu com o amassar das

flores de pano sem cheiro sem vida como

eu a . . . . . . . . . . .

na volta do pranto me vi em um bar de vagas com FERNANDO PESSOA

sentado tomando café com rum, Ele me viu com as rosas na mão

e me disse – Oh LÉO vem de lá sentar comigo com as rosas

da INA que são um perfume só . . . . . . . . . . . .

sentado contou-me das madressilvas, sem cheiro viçosas

de sua terra, como o pano de suas rosas sem cheiro

mas com tempero de dor. O bar fechou e fomos andando

por mil vagas pequenas que faziam cócegas em nossos pés

depois veio o abraço de despedida, e eu só me

lembro daquela sala estranha com um vaso de farmácia

vazio o barulho do mar e eu esperando você, pra te xxx

um buquê de rosas sem cheiro amarelas como o tempo

mas regadas a dor a xxxxxxxxx sala vazia, barulho do mar

rosas de pano . . . . . . . pano . . . . . . . . pano . . . . . . pano

Abstração do Léo – Leonardo Bizzoto Lopes

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Sal da terra

Deus a fez formosa

entre suas filhas

Coração gentil

fonte de júbilo

Coração iluminado

gerando contínuo

movimento

na multiplicação

dos círculos da vida

Coração prudente

– descansando no

rochedo imutável

reluzente

como a prata, o ouro

depois do crisol

Não lhe faltou

entre a diversidade de

dons,

Inteligência clara

por onde se filtram os mistérios

devorando os tropeços

de difícil travessia,

como a água e o fogo

tingindo todas as coisas

de paciente ternura

aguda compreensão

aliada firme,

sensível

aberta a beleza do mundo

e dos seres.

Deu-lhe também

a sabedoria do sal:

temperar os alimentos

na sua justa medida,

zelo, regozijo dos comensais

Conservar cada dia

o assombro da descoberta

a pureza do ser essencial

– imagem e semelhança de Deus

Preservar os quatro grãos

mais saborosos:

Rosa Maria, Amarilis, Regina Célia, Anisor José

numa verdadeira aliança

de sal,

tecendo o sabor da vida

suas riquezas

seus segredos

a generosa força dos sonhos

a expansão

a beleza do

Amor

Poema escrito por Hilda Scarabotolo, minha tia

para Dirce Josephina, minha mãe

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A meu pai

Recendias a madeira recém-cortada

a tronco surcado de essências olorosas

A madeira era teu elemento.

Teu coração -cedro milenário- imutável

em sua majestade, orgulhoso de crescer

vertical tinha profundas ternuras

para a embuia e o jacarandá.

O fulgor preciso da lâmina

na espessura tenra da madeira

era teu ofício predileto.

O talho justo na caoba e na vida.

Quando te evoco

há duas figuras superpostas:

teu humano rosto de complacente alegria

teu puro semblante de madeira

modelado de nós e de resinas.

Poema escrito por Hilda Scarabotolo, minha tia
Ao meu avô Hermínio Scarabotolo

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A minha mãe mar

Teu coração

açucena imarcessível

dispersada entre os sete

jardins do teu sangue,

teu coração

campo aberto com

mil fontes de água fresca

espesso favo inesgotável

às abelhas da ternura,

teu coração

montanha de silenciosos caminhos

companheira do ar azul

da pedra aguda

das flores silvestres,

antiga terra arada

permeável ao vento e à semente,

teu coração

cordeirinho de branca lã

suave ao tato e ao frio

sol que nos rodeia

em toda a sua redondeza,

teu coração

um rio de águas serenas

conhece os segredos

da vida e da morte.

Este poema foi escrito por Hilda Scarabotolo, minha tia

para minha avó materna D. Catarina Deperon Scarabotolo

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Sobre minha busca espiritual

“Quero lhe contar como eu viví e tudo o que aconteceu comigo!”
Como a música do Belchior, também quero lhe contar…
E conversar com você, sobre sua história, sua busca, para quem sabe
a gente se encontrar logo e não existir mais separação entre nós.
Nasci do lado materno, numa família católica, muito religiosa e
praticante.
Minha avó, mãe e tias, todas as mulheres maravilhosas,
brilhantes e fortes sempre foram e se mostraram sensíveis à fé
e à espiritualidade. Desde pequena a família orava e praticava
os rituais. Nós crianças acompanhávamos tudo.
A primeira lembrança iluminada em minha vida aconteceu no dia
do nascimento do meu irmão Zeca.
Tudo ficou maravilhado, iluminado, encantado… A palavra certa
acho que não existe! 
Foi nesse momento que despertei! E a partir desse dia minha alma,
consciência e talvez espiritualidade chegou à terra.
Talvez o milagre do nascimento, de uma vida que se materializa,
o mistério aparecido!

Foi minha primeira experiência espiritual, aos cinco anos de idade.
Fui catequista para crianças de rua, numa fábrica vazia que ficava
em frente à igreja.
Tinha fé e acreditava inteira, sem dúvidas. Como cristã praticava
de verdade.
Tarcisiana fazia teatro e cantava na igreja.
Meu pai ficou muito doente e morreu. Nesse momento minha fé
infantil se quebrou,
E pela primeira vez me senti só, insegura, tive medo, muita raiva
e muita dor…
Abandonada e triste. Continuei com as práticas católicas, mas eu
estava amortecida,
A vida amarela e cinza pálido ficou estranha e pesada. A dor
mudou tudo.
Só que eu ainda não sabia que isso era a vida e que começava aí
uma busca de mim e de tudo, sem fim!
Fui crescendo e descobrindo outras filosofias e religiões:
Budismo, Hinduísmo, Umbanda, Brahma Kumaris.
Fui médium umbandista, lia Bhagavad Gita, Zen Budismo.
No teatro me apaixonei, a vida rompeu o véu e me expôs a novas
vivências.
A música me encantou e penetrou o diapasão que dilacera a
minha alma!
Conheci uma dor terciária e enlouqueci dentro dela. 
Meus amores se foram.
Também morreram muito jovens.
Catatônica e embriagada, quase morri. Sucumbi.
A rebeldia, a raiva e o medo tomaram conta de mim. Tinha perdido a fé e
esquecido minha alma num abismo assustado.
– Luz, luz, luz! Foi o meu grito quando já não sentia nada a não
ser o medo!
Tinha perdido tudo, meus amores e minha alegria! Até
lentamente voltar a ser eu, demorou muito tempo. E continuava
não sabendo nada.
Fui como cega apalpando a vida, quase analfabeta buscando
caminhos e respostas.
Até despertar de novo! E de novo, reencontrar a alegria e…
Quem sabe o sopro de Deus, mesmo continuando sem saber
nada, a não ser saber que nada sei.
Foi a oração que me ensinou a cura e a volta à vida e alegria!
Por isso começo com o livro “Mostra-me teu rosto”, de Inácio
Larrañaga, chamado O Profeta da Oração.